Há muito tempo que não te escrevia, tu que sempre foste o meu pior lado.
Lembro-me quando discutíamos qual de nós era o lado esquerdo, porque acreditávamos que o esquerdo era o melhor lado.
Sempre quiseste arrancar (até esse!) troféu de mim, arrancando-me vezes sem conta o lado esquerdo de dentro de mim.
Havia, no entanto, momentos que conseguia alcançar a glória por cima dos teus falsos feitos e provar que dizeres mal daqueles que ambas amávamos, teria que fazer parte de uma lista negra que teria que ser anexada ao lado direito.
Quando me rebaixavas e me empurravas para o canto do quarto, tinha o prazer de, na minha cabeça, te transformar, encher-te de metáforas, mudar-te o cabelo, o corte, a cor, os olhos, as roupas, tudo menos o sexo. Sempre te tive como uma rapariga com uma beleza estonteante mas impenetrável. Com uma inteligência acima da média, com o dom de saber falar, tocar, escrever e perceber. Pelo contrário, o que me fazia suportar o teu mau génio era o objectivo de te ensinar o dom de saber amar. Mas, até nessa aprendizagem, foste fodida! Deixaste-te ser consumida pela superioridade e pelo estrelato, desprendendo-te de todos os ensinamentos que durante mais de um ano tentei gravar em cada poro do teu corpo não-físico.
Olhavas para mim e sorrias, com um sorriso de gozo e maldade, de como quem diz "Olha para mim e vê todos os lucros que consegui sem ti". No fundo nunca admitiste que tudo o que eras devias-o a mim. Cada característica que possuías, cada gosto que fazias questão de espalhar a cada oportunidade, tinha sido tudo moldado por mim.
Éramos parecidas, não iguais, porque sempre quiseste manter a tua individualidade que nunca foi realmente tua.
Depois da bonança, veio a tempestade. Assim se pode descrever a tua (falta de) aprendizagem no amor. Conquistaste, possuíste, espremeste, manipulaste e torturaste todos os que te amaram.
Tinha pena de ti e de mim, quando olhava nos teus olhos verdes possuídos de maldade. No fim, decidi matar-te.
Sem comentários:
Enviar um comentário