terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Do you feel like you belong?

Camões escreve nas suas estrofes que "as honras imortais e graus maiores" não são adquiridos numa herança. A abastada herança que faz um nobre ser da nobreza não o fazer ser, porém, um verdadeiro nobre. Pode incluir manjares, passeios, deleites para os nunca vencidos apetites, mas não inclui o traço característico do mais valente nobre: o esforço.
O heroísmo é uma luta constante, um esforço para se enfrentar tempestades e aguentar a morte para que, no fim, de regresso a casa, se tenha um sentimento de missão cumprida.
Estar no topo, comandando as operações, não faz do nobre um verdadeiro nobre. O verdadeiro nobre é o considerado "baixo trato humano embaraçado" que será, no fim das contas, o que terá o título de nobre sem ter sido honrado: será adquirido por mérito próprio.

Se, no tempo de Camões ou de Fernando Pessoa ainda fazia sentido escrever sobre heranças, hoje não faz. É um tema sedutor e profundo sobre o qual só uma pequena elite de escritores tem o conhecimento suficiente para o aproveitar e senti-lo.
Hoje em dia, o termo herança já quase não se pode aplicar aos jovens da minha idade, sendo que tudo o que têm, são pisadas, actos, factos, decisões, acontecimentos e pensamentos já passados por cada um. Podemos herdar características, valores ou crenças, mas cada vez mais acredito que essas noções estão perdidas num tempo em que já passou. Hoje já não se pensa nos outros, nos sentimentos dos outros, dos provérbios que vão desde o "Não faças ao outro aquilo que não gostarias que ele te fizesse" ou "A ganhar se perde e a perder se ganha". Hoje em dia a fama, a imortalidade ou os graus maiores como diria Camões, adquirem-se por tudo menos pelo sacrifício ou pelo esforço. Procura-se emprego, não trabalho. Um namoro ou casamento corre mal, acaba-se. Prefere-se a facilidade e comodismo, ao sacrifício e à felicidade. Curiosamente, não digo que isso seja mau. Continuo a querer que nos devemos pôr acima de qualquer problema, visto que a nossa felicidade é a meta principal de qualquer existência. Mas existem segundas, terceiras e quartas prioridades. A vida não é um pódio de um lugar vencedor.

O desafio vem quando não temos ordem de preferência sobre as nossas metas. Ser feliz, amar, ter saúde, ter estudos, viajar, ajudar, mobilizar...ordem? Nenhuma. Porque queremos tudo, e tudo ao mesmo tempo. Queremos amar, sofrer, rir, chorar, ajudar, gritar, cantar, silenciar, beijar, abraçar...facilidades.
Do meu lado, penso que o que não é fácil é transcrever o que se sente. Olho para este monitor, para estas letras, para este post e percebo que o escrevi se contradiz em cada frase. Prefiro acabar com um pensamento. Meu, fácil: Um dia gostava que me dessem um momento recheado de facilidades para tornar a consequência da felicidade ser real.


Is he dark enough?
Enough to see your light?
And do you brush your teeth before you kiss?
Do you miss my smell?
And is he bold enough to take you on?
Do you feel like you belong?
And does he drive you wild?
Or just mildly free?
What about me?

2 comentários:

Ruiva disse...

Somos uma geração a que chamam priveligiada, não vejo é porquê, desde quando o termos tudo oferecido numa bandeja é positivo? Onde fica a valorização pelo esforço?
No entanto, parece que vivemos num mundo de sapatos de rebuçado não é verdade? :)

Marta Gil disse...

Tendo eu uma capacidade inata de TALVEZ ver outras coisas para além das óbvias, e portanto ser uma fonte duvidosa de qualquer opinião (por poder ser contrária ao assunto do post), avanço na mesma com um "pequeno" comentário. Curiosamente, ontem fui deparada com uma composição sobre a felicidade, em que se contradizia o facto de ser um acaso, ou algo trabalhado por nós, ambicionado, uma luta pelo que desejamos.
Um facto é que a minha resposta e opinião quanto a este assunto, não passou de devaneios em praias paradisíacas e metáforas demasiado impercebíveis (o que provavelmente me levará a ter um excelente ponto de interrogação por cima, daqueles usuais no secundário).
E escrevi tudo isto para felicitar a forma organizada como consegues expôr os teus pensamentos, completamente concisos. Sempre foi algo que desejei ter.
(e acabei por nem ter comentado acerca do post em si ...)

Beijinhos