sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Carta para M, a metade


Olhas para mim com o olhar que se repete ano após ano. Já faz dois anos (ou três? ou quatro? já lhes perdi a conta) que me olhas com esse olhar pouco reconfortante. Só me olhas assim em Dezembro, nunca em Janeiro, Junho ou Setembro. É sempre no fim do ano que demonstras esse olhar incomodo de tão estranho que é.

Não é costume teu teres um olhar simpático. Nesta altura do ano o teu olhar frio e cruel desaparece, e dá lugar a um olhar quente, carinhoso...estranho. Deixas de ser tu, é como se o teu corpo estivesse ali e a tua alma fosse incomodar outro corpo, de outro alguém, deixando outra alma ocupar o teu lugar.
Queixo-me ao longo do ano da tua antipatia e desprezo, mas quando dás lugar a este ser simpático, queixo-me novamente.

Nunca estás satisfeita, dizes-me com razão.

Ensinaste-me a nunca me conformar com a inexistência de conforto. A tua presença conforta-me incomoda-me. Será sempre assim, M. Nunca ninguém ou algo irá conseguir mudar isso.

Chegamos sempre juntos ao final dos anos. Gostava de ter o teu habitual tu ao meu lado neste mês tão difícil. Não gosto do Natal, não gosto das mensagens que enchem as caixas de correio electrónico, não gosto do espírito natalício que incute nas pessoas uma falsa simpatia...e nem tu escapaste!
Vou continuar a esperar a tua companhia maldosa, cruel e insuportável. Festejaremos juntos o Natal em Janeiro com antipatia e sarcasmo. Farei contigo os desejos para 2011 e farei-te esquecer os problemas de 2010, para o deixar absolutamente perfeito.
Em 2011 serás, mais uma vez, a minha faceta cruel com memórias bonitas, enquanto eu te completarei com uma simpatia enriquecida de memórias tristes.
Mais um ano em que nos completamos, caro M.

Um feliz natal a todas as vossas metades interiores e exteriores.

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